terça-feira, 12 de abril de 2011

Em Lisboa, se a ajuda chegar, os políticos saem, pouco importa a eleição.....

Texto muito interessante sobre Portugal escrito pelo prof. Leonardo Trevisan publicado ontem em seu blog www.leonardotrevisan.com.br e reproduzido aqui com a devida autorização.

É curiosa a desatenção da mídia em relação ao caso Portugal. No sábado os ministros da Economia da zona do euro discutiram em Budapeste o dia inteiro o problema português. Uma única resolução foi tomada: o plano de austeridade que o Parlamento português rejeitou, e que derrubou o governo socialista de José Socrates, seria só o “ponto de partida”.

O eurogrupo apenas avisou que o ajuste fiscal que Portugal deverá fazer será quatro vezes maior do que o plano rejeitado de Sócrates.

Portugal pediu ajuda à União Européia esperando a mesma consideração dada a Grécia e Irlanda. No dia seguinte do pedido, a bolsa em Lisboa subiu. A realidade era bem diferente. O quadro mudou e muito na Europa, especialmente, na Alemanha. A Grécia é uma situação sem solução, sequer o tamanho do buraco é uma certeza. A Irlanda depois de receber US$ 119 bilhões da UE e FMI, elegeu um governo que denunciou o acordo feito e há duas semanas pediu mais US$ 50 bilhões para salvar seus bancos.

Portugal saiu da reunião com os ministros na Hungria sem um único centavo de ajuda. E com um ameaça muito concreta: o país será o exemplo do cansaço da Europa rica com os desatinos e desvios da Europa pobre. A festa parece ter acabado exatamente “na vez de Portugal”.

A Europa, leia-se a Alemanha, cansou. Em 1992 foi estabelecido o teto de 3% do PIB para o déficit público dos países do bloco. Os economistas alemães mostram que esse teto foi rompido 97 vezes desde então e nada aconteceu com os governos gastões.

Há um dado brutal que uma matéria do El País escancarou no domingo: “os políticos terão de ceder o comando em Portugal”. Foi isso exatamente que foi dito ao primeiro demissionário Sócrates. A ajuda só virá, se for independente do resultado das eleições.

O custo dessa concessão será imprevisível. A Europa não repetirá o erro cometido na Irlanda.

O dinheiro, ou a promessa dele foi feita antes das eleições. O novo governo de Dublin afirma que o acordo não foi assinado por ele e não o cumprirá. Portugal tem eleições em 5 de junho. Em 6 de maio está marcada um greve geral no país.

Os 10,6 milhões de habitantes sabem que a dívida do país dobrou nos últimos dez anos até atingir 97% do PIB. Tudo bem, é metade da dívida pública dos EUA, menor do que a da Inglaterra, mas… o resumo da situação na matéria do El País é dramático: Portugal tem o pior índice de crescimento econômico dos últimos 90 anos, a pior dívida pública dos últimos 160 anos, o pior desemprego dos últimos 30 anos, 11,3%, a segunda maior onda migratória de seus melhores quadros dos últimos 150 anos, e a pior taxa de poupança interna do último meio século. A dívida externa líquida é de 110% do PIB.

O drama descrito é imenso, mas esses dados bastam. Há seis meses, o governo socialista cortou em 10% os salários do funcionalismo, demitiu ministros, e reduziu pensões. Desde a redemocratização de 1975, Portugal já pediu ajuda ao FMI por três vezes. O ajuste não perdura. A desordem das finanças públicas é crônica.

Os economistas independentes em Portugal não cansam de repetir os mesmo números: há 600 órgãos públicos incluindo direções gerais e regionais, fundos diversos, que sobrepõem funções que custaram em 2010 nada menos que cinco bilhões de euros ao Tesouro. É a quantia que se calcula o estado receberia se aumentasse o IVA, como já sugeriram o FMI e a EU. A íntegra do artigo do El País está no endereço:

http://www.elpais.com/articulo/economia/politicos/ceden/mando/Portugal/elpepieco/20110410elpepieco_1/Tes

As condições do plano de ajuste já decidido pelo FMI, que será feito independente da vontade dos eleitos em 5 de junho, incluirá aumento de impostos, eliminação de benefícios fiscais, novos cortes de salários do funcionalismo e demissão de empregados públicos dos órgãos a serem extintos. Sem esquecer, profundas mudanças na lei trabalhista, que é a mais inflexível de toda a eurozona.

Algumas vozes em Portugal garantem que esta será a grande oportunidade para uma reforma do estado português adiada por muitas décadas. É possível. Porém, quando se perguntar aos 600 mil desempregados que Portugal já tem, se esse é o melhor caminho, com certeza eles não concordarão

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